
Passarinhos da by Kamy por Dona Rosa Maria
Você já ouviu falar em Lagoa da Prata? Apesar dos pouco mais de 50 mil habitantes, a imaginação e o talento de uma senhora de 80 anos despontam em meio a uma pacata vida interiorana.
É nesta pequena cidade do centro-oeste mineiro que a Dona Rosa Maria, inspirada pela natureza ao redor da fazenda em que reside, sempre transformou em arte o que lhe tocava o coração a partir dos mais diversos materiais, inclusive caroços de frutas.
Mãe da arquiteta, parceira e amiga Gisele Borges, tivemos o prazer de conhecer a história da Dona Rosa e nos encantamos pelo talento genuíno de uma mulher que, mesmo que simplesmente para passar o tempo, sempre deu asas à sua imaginação.
Contagiados pela história, levamos para Dona Rosa fragmentos de tapetes da nossa produção para que ela, à sua maneira e ao seu tempo, atribuísse a eles um propósito que somente uma mente brilhante como a dela poderia dar.
O canto da imaginação
A natureza da fazenda onde Dona Rosa Maria vive é o palco para sua imaginação. Rodeada pela impressionante fauna e flora do cerrado mineiro, o seu dia a dia oferece inúmeros motivos para criar – contudo, foram os pássaros que visitam as árvores ao redor da sua casa, em particular, que começaram a chamar mais a sua atenção.
A partir de um poleiro improvisado pelo marido, onde os grãos atraem aves de diversas cores e formas, Dona Rosa assiste de camarote um espetáculo diário que a levou a imaginar aqueles passarinhos representados de uma outra forma – e é aqui que os fragmentos de tapetes da by Kamy alçam voo na história.
Para Dona Rosa, cada fragmento de tapete tem uma história própria, por conta disso, a origem, a técnica de tecitura, a textura, a gramatura e as cores passaram a orientar o seu processo criativo.
Os tecidos mais macios se tornam pássaros menores e mais delicados, enquanto os materiais mais rígidos pedem moldes maiores e cortes precisos. Essa sensibilidade de trabalhar com o que se tem, respeitando os limites e potencialidades de cada material, é um reflexo da filosofia de vida de uma artista que tem muito a nos ensinar.
Amizade que dá asas à imaginação
A ideia de homenagear o talento de Dona Rosa a partir dos passarinhos feitos de fragmentos de tapetes da by Kamy nasceu de uma conexão especial de Francesca Alzati, nossa diretora criativa, com a Gisele, filha da Dona Rosa. Muito amigas até hoje, elas estudaram arquitetura juntas em Belo Horizonte-MG, no Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix.
Em uma visita à casa da amiga, Francesca se encantou com passarinhos de crochê feitos por Dona Rosa. Foi o despertar de uma ideia instigante: “E se eles fossem feitos de fragmentos de tapetes que temos do mundo todo?”. Gisele e Dona Rosa toparam sem hesitar.
Com os primeiros recortes de tapetes enviados pela by Kamy, mãe e filha se dedicaram a entender as particularidades de cada pedaço de tecido. O processo envolveu testes, ajustes e uma boa dose de intuição artística. Em cada peça, Dona Rosa deixa sua marca: cristas desfiadas, bicos coloridos feitos de crochê e combinações únicas que capturam a essência dos pássaros que a cercam.
Cada passarinho criado pela artista é único. A escolha dos tecidos, das combinações de cores e dos detalhes é feita com espontaneidade e sensibilidade. Assim como os pássaros do cerrado, que variam em tamanho, forma e comportamento, cada peça ganha personalidade própria. Até mesmo os pés dos passarinhos são feitos à mão, com arames cobertos por linhas de bordar, garantindo um toque especial a cada criação.
Dona Rosa não gosta de repetir modelos. Para ela, criar é explorar o novo, reinventar. Isso faz com que cada passarinho carregue um pedaço de sua história, uma expressão de sua habilidade e um traço de sua generosidade.
Arte sustentável com impacto social
O propósito sustentável e social da by Kamy encontrou no talento genuíno de Dona Rosa uma extensão de seus próprios valores, convergindo sobre a prática do reuso, de modo a aproveitar fragmentos que a by Kamy sempre entendeu que tinham valor.
A partir dos passarinhos feitos por Dona Rosa, parte da renda obtida com a venda deles é destinada a instituições que apoiam causas sociais. A primeira revoada, por exemplo, foi doada para um projeto em Porto Alegre, ajudando a criar espaços para crianças em abrigos após as fortes enchentes que assolaram o estado em maio deste ano.
Já a próxima leva de pássaros seguirá para a Vila Vicentina, uma instituição que acolhe idosos em situação de vulnerabilidade. Porém, o impacto vai além da venda. Dona Rosa sonha em compartilhar suas técnicas com outras pessoas, ampliando a rede de transformação.
Ela acredita que a arte pode não apenas gerar renda, mas também ressignificar materiais – tal como os fragmentos de tapetes, o que muitos erradamente entendem como algo a se descartar – e oferecer novas oportunidades para comunidades carentes.
Legado que amplia horizontes
O encontro entre Dona Rosa Maria, Gisele Borges e a by Kamy não é apenas sobre criar, colocar ideias para fora. É sobre a sinergia de valores, o desejo de fazer a arte como agente que transforma vidas e une pessoas em torno deste propósito.
O projeto, que começou sem grandes pretensões, já deu origem a novas ideias, como as “Pedras do Cerrado” e as bijuterias “Cercas do Oriente”, ambas também criadas a partir do reaproveitamento de matérias-primas.
Para a artista, o verdadeiro significado do trabalho está em dar asas a algo maior: inspirar outras pessoas a verem beleza no que antes certamente estaria no lixo. Com o apoio da by Kamy, sua arte transcende a decoração e se torna um símbolo de criatividade, sustentabilidade e solidariedade. Viva a Dona Rosa Maria!